outro dia, aproveitei um compromisso em pinheiros para tomar um café na livraria da vila (aham!). o café por acaso é coladinho na seção infantil (hahaha!) e tive a sorte de encontrar um grupo de alunos, mais ou menos da idade do meu filho – na faixa dos 2 anos – em passeio com a escola.
não é a primeira vez que vejo esse tipo de atividade rolando por lá, e gosto de ficar “de butuca”, espiando e ouvindo, pra ver como as crianças escolhem seus livros, se vai ter alguma atividade, essas coisas.
mas sério, gente, não gostei do que vi. primeiro porque tinha uma professora lá com ar de chefona que falava com os pequenos num tom que me desagradou: além de considerá-los uns idiotas (foi a impressão que me deu), ela falava “ai, fulaninho, como você é chato! criança chata não consegue ficar sentada no lugar!”. oi?
se eu pego alguma professora falando assim com meu filho, o bicho pega! sério! sei lá, podia ser a primeira vez do garoto numa livraria, ele estava animado, empolgado, queria ver tudo, queria ver os livros dos colegas… e outra, isso não é educar, é intimidar, é humilhar na frente dos colegas!
enfim, mas não é esse o assunto do post.
o fato é que ouvi – não só desse poço de conhecimento (pra não dizer outra coisa), mas de todas as professoras que acompanhavam o grupo – a seguinte frase: “mas esse livro não é pra você, esse livro é pra crianças grandes”!
oi? existe isso, gente?
imaginem né, já tava com bode daquela professorinha “exemplar”, depois de ouvir isso olhei bem o uniforme das crianças e dei graças a deus por não ter escolhido essa escola pro meu filho!
bem, passou.
outro dia, estava eu novamente tomando um cafezinho por lá (aham!) e tinha uma família de avó, mãe e neto por ali, nas mesinhas. o menino devia ter em torno de 2 anos. ficou encantado com um livro do pequeno príncipe, um que replicava as imagens desse filme recente, com ilustrações feitas em papel dobrado e tal.
e aí a mãe solta a pérola: “fulaninho, esse livro não é pra você, é pra criança grande” e ainda completou com a perolíssima: “você não vai entender”!
olhem só, não sou pedagoga, minha única experiência com crianças é a de mãe, então não sou nenhuma entendida ou sumidade mas né, vamos raciocinar?
se as crianças são levadas a uma livraria (ou biblioteca), é interessante que tenham autonomia para fuçar, folhear, escolher (não precisa deixar destruir os livros, principalmente aqueles que você não vai comprar, mas né!)… o espaço ali é pra isso!
por exemplo, no caso da professora, ela pode não conhecer a rotina leitora daquela criança, daquela família. o menino podia ter aquele livro em casa e gostar, ué! ou pode ter sido atraído pelas ilustrações, pela capa, o que for. mas ele gostou daquele!!!! empurrar um livro “de criança pequena” que não atraiu a atenção da criança vai contribuir pra quê? praquele livro ficar encostado, fazendo calço de mesa, virando pista de carrinho…
e a mamãe? que falta de confiança no próprio filho, que incentivo!
gente, vamos pôr na cabeça que: vocês não precisam ler toooooodas as informações do livro! as crianças pequenas se cansam de histórias longas, mas você pode ir contando do seu jeito, resumindo, conversando sobre as imagens… tem tantas formas de aproveitar um bom livro! (um péssimo livro é que não pode ser aproveitado nunca, né não?!).
vamos confiar nas crianças, por favor? vamos parar de achar que elas não entendem nada, porque enquanto você acha (e diz) isso, além de minar a autoconfiança do pequeno, ele pode estar aí, rindo da sua cara e se aproveitando da situação (não pense que não!).
não simplifique o vocabulário: explique;
não diga que ele não vai entender: explique;
não escolha por ele: lhe dê autonomia (e confiança, e segurança).
vejam o que diz o professor de literatura francês, daniel pennac: “o verbo ler não suporta o imperativo. é uma aversão que compartilha com outros: o verbo amar… o verbo sonhar…” (pennac, daniel. como um romance, 1996, p.11, in www.escrevendoofuturo.org.br). a leitura tem que ser prazer, gente!
olhem só, a tatiana belinky, quando começou a estudar no mackenzie, foi se inscrever na biblioteca e foi surpreendida com proibição de leitura de certas obras. havia por lá umas prateleiras cor-de-rosa com leituras indicadas para “moças” (isso mesmo que você leu). chegou em casa e contou pro pai.
no dia seguinte, chegou à escola com um bilhete que dizia: “minha filha tatiana tem a permissão de escolher e retirar dessa biblioteca todo e qualquer livro que ela queira ler”.
tá bom gente? vamos nos inspirar?