o italiano Bruno Munari (1907-1998) foi designer, artista, escultor, escritor, educador e teórico de arte. a primeira vez que ouvi falar dele foi através do livro “das coisas nascem coisas”, exemplar da biblioteca do marido, que é designer. tempos depois, topei com outro livro de sua autoria, dessa vez destinado ao público infantil: “na noite escura”, publicado pela cosac&naify.

dada a interessância sem tamanho dessa obra, lá fui eu fuçar a internê em busca de mais coisas, mais informação… e foi aí que descobri os “prelibri”, uma obra maravilinda, feita em pequeníssima escala, considerada por muitos um tipo de livro de artista (leu o post anterior?).

bem, os “prelivros” foram criados entre 1949 e 1952, e consistem numa série de 12 pequenos livros quadrados, de 10×10 cm, cada um com um tipo de encadernação, material, acabamento… são livros sem palavras, que se comunicam ora através de imagens, ora através de uma linha de algodão que atravessa suas páginas, ou de pequenos recortes… tem livro de madeira, feltro, plástico, papel fino, papel grosso, livro transparente, livro opaco. tudo isso vem dentro de uma caixa de papelão, com um berço pra cada livrinho.

a ideia do genial munari era que as crianças, ao interagir com esse material, aprendessem a “ler” as mensagens através das formas e texturas.

e de verdade, os livros pequeninos cabem direitinho nas mãozinhas dos leitores, oferecendo estímulos variados (macio, duro, liso, rugoso…), educando sua percepção para a imagem, para a descoberta do novo a cada página. o próprio munari dizia que os prelibri deveriam dar justamente a sensação de que livros são de fato objetos portadores de inúmeras surpresas (e não são?). segundo ele, a cultura vem da surpresa, das coisas que até então nos eram desconhecidas e que passamos a desvendar.

aliás, em tempos digitais, quantas descobertas podem ser feitas ao tocar e cheirar esses materiais (até mesmo lamber!)? um jeito de não perder o contato com a concretude das coisas.

na época de sua criação, os prelibri eram exemplares únicos, que podiam ser encontrados somente na biblioteca de milão. foram de fato publicados pela primeira vez em 1980, pela danese. nossos exemplares são obviamente uma reedição, da italiana corraini – e continuam sendo confeccionados quase sob demanda, em pequena escala. os nossos foram presentaço do papai noel (hehe!), mas olha que legal: dá pra aproveitar o conceito e criar seus prelivros por conta própria: você pode usar feltro e canetinha, cartolinas, papel vegetal, folhas de madeira, pedaços de pastas plásticas… há um sem-fim de possibilidades!

se você quiser saber mais sobre bruno munari, tem um site cheio de informações – o www.munart.org
você pode também conhecer algumas obras de munari aqui – www.lestroisourses.com – aliás, aqui é um ótimo lugar pra ler mais sobre livro de artista e conhecer obras incríveis e difíceis de encontrar….

* na quarta capa da caixa que contém os prelivros há uma espécie de entrevista com munari, a qual transcrevo aqui, em tradução livre:

A- o que é um livro?
B- um objeto feito com muitas páginas unidas por uma costura.

A- mas o que tem dentro?
B- usualmente, palavras que, se forem enfileiradas, você teria que andar milhas para ler.

A- o que as palavras dizem?
B- elas contas diferentes histórias sobre pessoas de hoje ou de tempos antigos, ou complicados pensamentos políticos ou filosóficos, poesia, contabilidade, informações técnicas, experimentos científicos, lendas, ficção científica, contos e assim por diante…

A- fábulas também?
B- fábulas também, claro, e histórias engraçadas, rimas sem sentido e limeriques.

A- com muitas imagens?
B- algumas vezes com muitas imagens e pouquíssimas palavras.

A- mas pra que se usa um livro?
B- para aprender sobre coisas ou se divertir, em todo caso para adicionar o conhecimento de alguém no mundo.

A- ah, entendo, serve pra deixar a vida mais divertida.
B- sim, com frequência.

A- mas as pessoas usam esses livros?
B- algumas pessoas leem muitos livros, outras os usam para decoração. algumas pessoas têm apenas um livro em casa, a lista telefônica.

A- então até para uma criança de três anos seria bom familiarizar-se com o livro como um objeto, reconhecê-lo como um instrumento cultural ou como meio poético, para assimilar conhecimento que facilitem a existência.
B- conhecimento é sempre uma surpresa, se vemos coisas que já sabemos, não há surpresa. pequenos livros devem estar disponíveis, cada um diferente do outro, mas cada livro, cada um com uma surpresa diferente, acessíveis para crianças que ainda não podem ler.

A- posso ter um também?
B- você terá uma caixa cheia, pequenos livros feitos com diferentes tipos de materiais: um livro com ilusões de ótica, um com aventuras táteis, um geométrico, um sobre ginástica, um de história natural, um de filosofia, uma história de amor, um com as cores do arco-íris, um livro transparente, um livro macio, um de ficção científica…

A- mas como se chamam esses livros?
B- prelivros.

A- quero esses livros imediatamente.

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