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Uma casa com muitas histórias para contar

Muito prazer, eu sou a Amelì, editora brasileira de livros ilustrados.

Publico livros que contam mais que histórias, procuro aqueles que verdadeiramente façam a diferença na vida de crianças e adultos. Edito obras que instiguem o leitor, que comportem interpretações diversas, com ilustrações peculiares e que sejam como um novo livro a cada leitura.

Acredito na materialidade do livro, e trabalho para que ele seja inteligente, bonito e gostoso de manusear, porque isso tudo faz parte da experiência de leitura.

Invisto na qualidade das publicações, na divulgação de autores nacionais e no lançamento de obras internacionais inéditas no mercado brasileiro.

Nas linhas dos livros e nas cores das artes estão as verdades necessárias para que sejamos livres e iguais!

no que
a gente acredita

maria amélia

Queridos pequenos grandes leitores desta carta.
Peço licença para dividir com vocês um pouco desses meus últimos anos.

Tive a sorte de ter nascido e crescido dentro de uma família que ama os livros e as artes. E, diante da educação que temos no meu país, o Brasil, posso dizer que tive sorte ter tido uma educação com acesso à leitura, autores, papéis, cores, ilustradores, desde muito cedo.

Mas esse fato não foi por acaso.

Cresci rodeada por bravas mulheres. Cresci rodeada por mulheres que, desde muito cedo, queriam transformar o mundo. Não pela busca de poder, como muitos pensam ou pensaram.

Não era poder o que elas queriam. Elas queriam chance.

A chance de transformar nosso mundo pela educação, pela leitura e pela cultura.

Há anos, eu pensei ter encontrado a minha chance de mudar o mundo, do meu jeito.
Advogar, para mim, era a chance de trazer a verdade e a mudança. Me enganei.
Não encontrei a chance nas leis.

Porém, a reencontrei nos livros.
Nos livros dos meus filhos.
De noitinha, deitada na cama com eles.
A primeira página foi suficiente para esse reencontro.

As verdades que tanto busquei nas leis e nos artigos, as achei coloridas e cheias de curvas e texturas nos livros de literatura, nas gravuras dos artistas, nos poemas e nas capas coloridas.

As verdades necessárias para que sejamos todos livres e iguais não apenas perante a lei, mas perante uma sociedade inteira, homens e mulheres; tais verdades não estão na Constituição apenas.

Estão nas páginas dos livros e nas cores das artes.

Foi assim que minha vida deu uma guinada — abandonei uma carreira bem sucedida no Direito para viver o sonho de ser e gerir uma pequena editora. Pequena no tamanho, mas grande na vontade de publicar títulos especiais, que façam diferença na vida dos leitores, que os ajudem a criar repertório pra descobrir o mundo e, principalmente, descobrir a si mesmos.

Aliás, são muitos os descobrimentos de mim mesma desde que a minha missão ficou mais nítida no reflexo do meu espelho.

Agora, sobre as bravas mulheres que me guiaram nesse caminho. Sobre a minha tia. Ela é professora. Sobre a minha mãe. Ela é professora. Sobre a minha avó. Ela não sabia ler as palavras dos livros. Mas sabia ler as cores, sabia ver as texturas e as imagens; e me contava, em muitas noites, as histórias de suas lembranças e de sua tradição.

Sobre mim. Muito prazer, Maria Amélia.

Para os amigos, Amelì.

lion d. santiago

Para leitores e ouvintes,

Gostaria de compartilhar um pouco do que poderia ser um percurso do ‘não pode’…

Como muitos brasileiros, sou filho de mãe solo, migrante que, por conta das dificuldades da vida, foi uma não-leitora. Nasci dentro de uma família com ‘apenas’ uma figura de referência. Sem pai, irmãos, tios ou avós, cresci carregado pelas forças de uma mãe que, mesmo diante de todas as contrariedades, acreditava que ler e estudar era a única possibilidade de mudança das condições precárias da vida.

Naquele contexto, não tínhamos condições de ter muitos livros ou de viver a diversidade artística existente na cidade. Mas, ainda assim, tive contato com histórias. Cresci em meio a narrativas, memórias e contos que minha mãe vivenciou em sua infância, e que fizeram parte da construção do seu imaginário, permitindo que ela criasse mundos em sua infância.

Sou sobrevivente de uma escola pública precarizada, em um país que não investe o quanto deveria em educação.

Mas, mesmo assim, tive o privilégio de ter acesso a um lar, à esperança de mudança e às palavras de uma mãe que sempre disse: “Estuda! Só assim você vai poder ser alguém!”

Minhas marcas são os vestígios por onde passei e, nessa caminhada, a biblioteca se fez presente em minha vida. Neste território da ficção, uma bibliotecária me emprestava livros sem se preocupar com o prazo de devolução – afinal, eles sempre retornavam.

Cresci e, graças a bons amigos e a minha mãe, cresci leitor, brincando de completar a carteirinha da biblioteca pública do meu bairro.

Cresci e encontrei o teatro, que marca a minha trajetória até hoje, permitindo que eu consiga ver o mundo com olhos de criança.

Cresci mais um pouco e, graças ao esforço de todos ao meu redor e de políticas públicas que previam reduzir o dano histórico de um país colonizado pela exploração, tive a oportunidade de estudar em uma universidade pública.

Cresci para ser adulto, escutando discursos de ‘não pode’!

Estudei e, nos livros, busquei um lugar de possibilidade. Segurei mãos que se estendiam, bolsa de estudos, pós-graduação, mestrado… Encontrei Amelì, que disse: “Tenho um projeto, você topa?”

Em uma sociedade do ‘não pode’, sou privilegiado por ser filho de mãe solteira e por ter encontrado pessoas que, hoje, me possibilitam dizer:

Pode ser pedagogo homem!

Pode ser mediador de literatura!

Pode ser mestrando em literatura!

Poder ser editor da Amelì!

Pode ler!