na capa, ilustração de maurice sendak na obra “onde vivem os monstros”, considerada por muitos (e por mim também) uma obra-prima da categoria.
ah, o livro-álbum. esse tipo de publicação que tanto me encanta e sobre a qual venho estudando cada vez mais!
venho ruminando algumas questões recentemente, e uma delas diz respeito à “setorização” do livro-álbum – quase todas as publicações nessa categoria são rotuladas como livros infantis, moram segregadas nas livrarias e bibliotecas, naquelas salas meio isoladas, coloridas (e muitas vezes cheias de brinquedos e outras tranqueiras) destinadas às crianças.
é claro, os livros-álbum são, em sua grande maioria, destinados ao público infantil – os adultos que não têm contato com crianças nem paixão por ilustração praticamente ignoram esse gênero literário. quando pego algum “desprevenido” pra conversar sobre o assunto, percebo que a maioria lê somente o texto, passa os olhos pelas imagens e solta um “ah, que bonito” meio encerrador de assunto.
dia desses, otto estava “lendo” um livro para uns amigos meus (entre aspas, porque ele ainda não foi alfabetizado) – recitando o texto que ele já sabe de cor e dizendo, em tom professoral: “você tem que ver também os desenhos, não só a história!” (eu juro que nunca chamei a atenção dele nesse sentido!).
ah, gente! me enchi de orgulho! meu pequeno já sacou toda a magia que existe na nossa pequena biblioteca, porque é justamente no diálogo entre texto e imagem que se multiplicam as possibilidades de interpretação da história; se por um lado o texto define a realidade objetiva do livro, por outro as ilustrações nos oferecerem uma outra dimensão de compreensão, uma dimensão alternativa e figurativa do sentido, conferindo outros atributos ao discurso daquele livro que passariam despercebidos se a leitura ficasse restrita à palavra escrita.
sempre me pego pensando que são justamente as ilustrações que ajudam a compor um repertório de imagens, que fomentam a imaginação e contribuem para a formação da “cultura visual” e estética das crianças.
além disso, acredito que o livro-álbum estimula a capacidade de interpretação – principalmente quando as ilustrações são contraditórias ao texto escrito, gerando uma certa dissonância na narração.
capacidade de “ler imagens” é tão fundamental quanto a alfabetização mas, por alguma razão, é considerada menos importante – muito embora nossa sociedade atual use com abundância a comunicação por meio de imagens e pictogramas.
pra refletir mais sobre o tema, voltei a ler “seis propostas para o próximo milênio” (cia. das letras) – principalmente a proposta número 4, além do ótimo “lectura de imágenes”, de evelyn arizpe e morag styles (fondo de cultura económica). vale também a leitura do livrão da sophie van der linden “para ler o livro ilustrado” (cosac naify).
vamos conversar mais sobre esse tema? será que você vai encarar o livro-álbum da mesma maneira depois dessa pequena reflexão? diz aí!